INSISTIR NA RELAÇÃO ANTIGA OU TENTAR UMA NOVA?
Nick enviou a seguinte história para o e-mail do DesprogrAME-SE: “Por 5 anos e meio, namorei alguém que eu amava muito, mas que por algum trauma do passado tinha um bloqueio em relação a mim, e não se podia falar em casamento, apesar de ser muito pressionado a tomar uma atitude por todos os lados (eu, família, amigos, etc). Eu sentia que esse relacionamento era unilateral, eu me esforçava muito para que desse certo, e sentia que se eu parasse com os esforços, não daria certo. Eu abri mão de muitas expectativas, relevei muitos defeitos e faltas de atitude dele, mas tivemos também momentos maravilhosos. Bem, após esses 5 anos e meio ele terminou comigo dizendo que não tinha certeza do que sentia em relação a mim. Em seguida começou um novo relacionamento, o que me deixou arrasada. Depois de um mês, eu comecei a namorar outro rapaz, que parecia ter muito mais sintonia comigo, que era mais leve, mais saudável e eu me sentia feliz sem estar loucamente apaixonada. 4 meses depois, o meu ex terminou o namoro dele, que aparentemente não deu certo, voltou arrependido e me ligava chorando e me falando coisas com as quais eu sempre quis antes que ele tivesse dito, como amor, casamento, etc. Reatei com ele, mas não era a mesma coisa! Eu não conseguia acreditar 100% nele, e ainda estava muito magoada com o jeito que ele terminou e se envolveu em outro relacionamento tão rápido. Além disso, eu fiquei insegura, achando que ele podia fazer isso de novo no futuro! Além de me sentir sufocada pela possessividade e pela entrega dele, o tanto que ele me cobrava e o medo que eu sentia de não estar fazendo as coisas do jeito que ele gostaria que eu fizesse. Enfim, terminei de novo com ele e senti falta do outro, com quem foi mais leve, divertido e construtivo, apesar do sentimento não ser tão intenso. Minha dúvida é: estarei jogando fora o "amor da minha vida" por causa dos problemas que ele (e nós) temos, ou apenas me livrando de um relacionamento que não é saudável mais? Devo insistir no antigo ou me jogar totalmente em um outro novo?”
Nick,
ao relatar sua dúvida afetiva, você decretou a impossibilidade de ser feliz e loucamente apaixonada ao mesmo tempo. A discrição da sua descrição revela o quão cautelosa você é com os seus sentimentos e a maneira de expressá-los. Cuidado, cautela em excesso se transforma em covardia. A desconfiança inflama o gostar. O hábito anestesia o improviso. Você se habituou a desconfiança e associa isso a gostar com intensidade.
O excesso de imaginação é a forca da realidade, repare, é a forca e não a força. O Instante é o aforismo da vida. A vida acontece em instantes, por aforismos. Aforismo é decidir. Amar é aforismo. Amar é decidir mesmo que seja errado. Não há problema em errar, se isso acontecer, invente o certo. Não tenha medo de se arrepender, tenha medo de não ouvir o seu desejo pela ânsia de repetir. Tenha medo de não deixar seu corpo falar.
Não faça como a maioria das pessoas que só muda quando a atual realidade é realmente insuportável (e olhe lá). As pessoas que fazem isso ficam no transtorno da neurose, não evoluem, ficando em um ciclo de repetir os mesmos erros, de reviver as mesmas situações traumáticas e dolorosas, e usando mecanismos de defesa para não admitir tudo isso. Não vale a pena levar uma vida para provar que alguém estava errado ou para se convencer que estava certa. Amor rejeitado é vingança, não é mais amor.
Quando tentamos administrar o sentimento, o namoro está falido. Não existe como gerenciar a vida alheia ou acomodar expectativas antigas com as novas. No retorno do namoro de vocês ele se vê mais apaixonado, e você também o vê assim, mas é desespero. O desespero é uma miragem de bons sentimentos. Na verdade, o desespero é uma paixão megalomaníaca, uma paixão platônica, uma paixão carente, uma paixão arbitrária. Isso não é amor e não tem a menor chance de virar.
Eu não usaria uma vida para justificar o passado. Ele não sabe se gosta de ficar com você. Ele sabe que não gosta de ficar sozinho. Eu vejo muita afetação e pouco afeto. E por falar em afeto, o amor possui uma geografia do afeto e você a mencionou quando falou do outro namoro no qual você esteve envolvida, você fez referência a esse relacionamento utilizando palavras como: sintonia, leve, saudável, feliz, divertido e construtivo. Alguma dúvida que isso é amor? Não se assuste, antes de conhecermos o amor, conhecemos primeiro a sua geografia.
Nick, geralmente não queremos acreditar naquilo que acena em nosso rosto, preferimos buscar desculpas mais longe para não enterrar a paixão. Sofremos com a ideia do desperdício do sentimento. Sofremos com a sensação de perda de tempo. Perder tempo é ter medo de mudar. Eu não diria que encerrando de vez esse namoro de cinco anos e seis meses, você estará se livrando de um relacionamento que não é saudável. Eu diria que ambos viveram o máximo que poderiam. Nem mais. Nem menos. Chega de velório, enterre logo esse amor. Tem alguém que já está querendo e te fazendo feliz, vai ser muito fácil você ficar loucamente apaixonada por ele, o que significa ficar loucamente apaixonada por si mesma.
No amor, somos atraídos por tudo o que não entendemos no outro. Apaixonamos por aquilo que não sabemos e descobrimos que precisamos. Olhe para essa pessoa que quer estar com você inteira e não para quem quer estar com você fragmentada. Assumindo esse novo olhar você vai descobrir muita coisa que não entende e o tanto que precisa delas. Parafraseando Friedrich Nietzsche: Amar é dançar na beira do abismo. Boa dança!