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CHANTAGEM EMOCIONAL: QUANDO A CULPA NÃO É PARTILHADA NA RELAÇÃO AMOROSA

Cláudia enviou um e-mail para a Geografia Clínica dizendo: “Eu namoro ha 3 anos, no come

ço era um mar de rosas... Ele querendo me agradar, me enchia de elogios, eu a mesma coisa... Pois no começo é deste jeito mesmo, só que o tempo foi passando e as coisas foram esfriando, eu comecei a ser totalmente insegura, comecei a deixar minha autoestima lá embaixo, me achando inferior a tudo e todos, comecei a ficar muito ciumenta e possessiva. Gosto muito do meu namorado, ele é um gracinha comigo, mas tem algumas coisas nele que me deixa bastante chateada e confusa, eu fico me perguntando se sou tão chata assim, se sou tão complicada assim, eu gosto de estar com ele, tudo que faço falo com ele, final de semana está chegando começo a programar coisas legais para fazer, enfim, a gente se diverte...



Só que ele é um pouco difícil de compreender as coisas, não aceita opiniões, ele está sempre certo, as vezes dá o braço a torcer... Mas enfim, eu acho que na cabeça dele, ele já me conquistou e não precisa fazer mais nada, mas eu também sou bastante complicada, eu gosto de carinho, atenção, sou tímida para algumas coisas, gosto de ser reparada, elogiada... Enfim, coisas que toda mulher gosta, lógico que sem exageros... Me sinto culpada sobre algumas coisas que eu fiz e me arrependo muito mesmo sabendo que não devemos nos arrepender de nada. Sei que eu e meu namorado somos totalmente diferentes e que temos que aprender a lidar com a diferença, mas é complicado eu não sei se é porque é o meu primeiro namoro firme mesmo com a mesma pessoa, só posso dizer que é bastante complicado, e o que eu quero é resolver as coisas comigo mesma e no meu relacionamento, as vezes sinto que o problema está comigo, e quando eu começar a melhorar comigo mesma tudo vai ficar bem. Eu queria uma ajuda de vocês, pois amo o meu namorado demais, e o que mais quero é que fique tudo bem entre a gente”.



Cláudia,


No seu relato é possível perceber uma cronologia que é muito comum na maioria dos relacionamentos... O início mar de rosas e o posterior esfriamento que provoca a insegurança, acentuando uma fortíssima baixa autoestima. A sensação de inferioridade decorrente da baixa autoestima faz nascer a possessividade que é manifestada em inveja por querer ser como as outras pessoas e por ciúme por querer que as pessoas deem o máximo delas pra você. Cada vez que a possessividade é utilizada mais sofrimento você gera aos outros e a você mesma. O que se configura como o ambiente perfeito para o surgimento da culpa e do arrependimento que só servem para engessar. Engessada nas suas próprias limitações, você passa a enxergar as mesmas coisas adquirindo a percepção de que é tudo difícil e complicado.


Cláudia, este movimento descrito acima acontece quando a pessoa busca em um relacionamento a simbiose, a completude. Esta busca por complementaridade é baseada em crenças bastante limitantes sobre o amor, por exemplo: O erro de supor que você é menos sozinha vai fazer você agir como se estivesse pagando uma dívida, transformando cada afeto num favor, a partir da certeza de que ele vai mudar sua vida. Isso faz a pessoa cair em um labirinto no qual ela enxerga apenas as suas falhas e frustrações, reconhecendo o outro como melhor e mais capaz.


A crença na completude provoca a simbiose impossibilitando a partilha, pois um dos dois se vê melhor que o outro no relacionamento. O amor é democrático. O amor é um dever. Quando a pessoa transforma o amor em direito ela substitui o charme de conquistar pela autoridade de cobrar.


Então, o pensamento não deve ser mais o de que ele é inferior a você ou você é inferior a ele. O amor é se colocar igual. O amor é partilhar. Vocês são dois indivíduos inteiros que buscam a partir da relação amorosa desenvolver a segurança emocional e o crescimento como pessoa. Este deve ser o pensamento de vocês.


Outro pensamento que deve ser eliminado é o de que você é chata e complicada, pois a existência desse pensamento sustenta a crença de que seu namorado é legal e resolvido. Novamente a ideia de superioridade. O que gera a culpa, conforme descrito anteriormente, que serve apenas para engessar a pessoa em suas próprias falhas. Guarde isso, culpa e arrependimento serve apenas para a pessoa ficar engessada às suas piores falhas e limitações.


No final do seu relato você diz assim: “Quando eu começar a melhorar comigo mesma tudo vai ficar bem”. Muito interessante esta afirmação, pois ao fazê-la, você reconhece a importância de trabalhar a autoestima para que a pessoa construa relações de qualidade livres de jogos, manipulações e sofrimento.


Autoestima é uma avaliação diária que o indivíduo deve fazer sobre o seu jeito de ser, o seu modo de agir e as características de sua personalidade e ao final dessa avaliação, se ela se sentir confortável ela tem autoestima. Ao se sentir confortável com esses três fatores, a pessoa não se obriga mais a ser o que não é apenas para estar de acordo com certas convicções e teorias. O que elimina a possibilidade das crenças e culpas dominarem o seu próprio modo de ser. Criando a atmosfera perfeita para o surgimento de ideias, para que a pessoa se entusiasme ainda mais com o que ela é e com o que ela pode fazer com isso. Desta maneira, ela se coloca numa condição de igualdade no relacionamento o que inviabiliza o surgimento da chantagem emocional.


A chantagem emocional acontece quando uma pessoa deseja que sua vontade seja cumprida, daí ela exagera no sofrimento pelo qual passará caso não seja atendida. Assim, exerce o egoísmo impondo seus caprichos sobre quem não tem forças para reagir à pressão, pois este é imaturo moral, ou seja, é totalmente dominado pela culpa, se responsabiliza por dores que nem causou. E assim, cada vez mais, vai abrindo mão das coisas que deseja se tornando uma vítima perfeita das pessoas que gostam de fazer chantagem emocional. Portanto, na relação amorosa, quando a culpa não é partilhada a chantagem emocional surge e o processo de submissão é estabelecido.


É importante observar isso em seu comportamento na vida não só dentro da relação amorosa. Não se sinta culpada por dores que não causou. Não se coloque inferior nem superior a ninguém. Não adote um comportamento passivo na vida, pensando que o amor é sinônimo de martírio, de suplício, de disputa. Um comportamento inseguro na vida só vai incitar nas pessoas que forem relacionar com você atitudes mesquinhas e egoístas.


Lembre-se sempre que: O amor é interesse mútuo e permanente. É uma ferramenta que deve ser usada para que os indivíduos que compartilham esse sentimento entre si se sintam iguais e capazes de, a partir da relação amorosa, sintonizar uma cumplicidade que permita ao casal crescer juntos emocionalmente, intelectualmente e moralmente.


Vocês dois precisam se interessar cada vez mais pelos pontos que possuem em comum. A partir disso, devem sintonizar a cumplicidade para que a relação seja a energia diária para desenvolverem e sustentarem a autoestima e ficarem cada vez mais confiantes em fazer os pontos que vocês possuem em comum virarem referência de amor e de realização dos sonhos de vocês nesse mundo.

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