ARTIFICIALIDADE – COMO SUPERAR A MANEIRA FRIA E SEM ENVOLVIMENTO ADOTADA POR MUITAS PESSOAS NO AMOR?
A orientação afetiva dessa semana será uma resposta a uma questão curta e muito complexa levantada por uma garota chamada Aline. A partir da resposta a essa pergunta consigo ajudar as pessoas que enviaram dúvidas afetivas para nosso e-mail querendo uma orientação para a dificuldade em encontrar parceiros amorosos atualmente.
A questão é: "Eu quero ter alguém, mas não consigo sentir nada por ninguém."Aline, estamos nos transformando em xenobióticos de tanto que estamos consumindo estes compostos químicos. O significado de Xenobiótico é estranho a biose, estranho a vida. Para ficar mais claro o que são esses compostos químicos é só lembrarmos das substâncias adulterantes que estão bastante disseminadas em nossa cultura com o intuito de fazer com que tudo fique mais palatável pra consumir. Portanto, os corantes, os aromatizantes, os conservantes, os adoçantes, são xenobióticos. Cada vez mais estes compostos são usados e cada vez mais nós os consumimos. Aline, alimentamos de artificialidades todos os dias e aquela velha frase somos o que comemos se torna uma verdade dura e triste. De tanto consumirmos artificialidades estamos nos tornando artificiais. A indústria dos alimentos quer produzir em grande quantidade a um custo adequado e pra isso utiliza de aditivos químicos para que os produtos que chamamos de alimentos fiquem nas prateleiras o maior tempo possível para consumo. E aí utiliza-se dos xenobióticos. Vivemos em uma sociedade regida pelo pensamento de que todo desejo deve ser imediatamente satisfeito. Daí, passamos a adulterar todas as coisas o tempo todo só para a nossa vontade ser saciada no momento que quisermos. As pessoas querem tudo para agora. Tudo se tornou prático, rápido, objetivo e essas são as características determinantes para que as pessoas comprem algo. E também são as características que as pessoas procuram na vida e nas relações. Praticidade, rapidez, objetividade. Essa é a única forma que as pessoas - consumidoras de tanta artificialidade - conseguem se relacionar. Na sociedade dos xenobióticos, as pessoas estão com muita dificuldade em procurar maneiras sensatas para obter aquilo que desejam de modo que não cause danos aos outros e a elas mesmas. Portanto, as pessoas estão se tornando os produtos nas prateleiras. Todas iguais, embaladas em realçadores de sabor. Todas artificiais, produzidas para serem descartadas. Como sair disso? Como não se tornar mais um produto igual aos outros que cumpre a mesma função e é descartada sempre da mesma maneira fria e sem nenhum envolvimento? Crescemos com a crença de que existem apenas dois caminhos, apenas dois modelos de ser e estar no mundo; o bravo e o manso. E a partir dessa crença definimos como seremos e como vamos tratar os outros. Para me dar bem tenho que ser bravo, pois se eu for manso vão me passar pra trás. Desta maneira, passamos a maltratar quem por nós tem amor. E tratar com todo respeito e carinho quem por nós não sente nada. Um exemplo bem simples disso é: em casa descontamos todas as nossas dores em nossa família. E no trabalho, tratamos bem aquela pessoa que é sem educação com a gente. Aí vem a desculpa, mas no trabalho eu preciso agradar, pois preciso do emprego. Em casa, não, aquela pessoa me ama mesmo. Então, estamos escolhendo ser bravos ou mansos. Enquanto devíamos escolher nos tornar possíveis para o outro nos amar. O amor exige maturidade. O amor pede o mais difícil e para agora. O amor é pra quem tem coragem de se colocar em reforma. É pra quem tem vontade de nascer. O amor é esforço de compreensão. O amor não é pra usufruir. É pra incorporar! O amor é para aquele que não mede o amor pela sua própria alegria. Mas pela alegria de quem o acompanha. Aline, precisamos aprender a usar um aromatizante na nossa raiva, um conservante na nossa esperança e um corante na nossa capacidade de sermos simpáticos, leais e delicados. Precisamos aprender a usar xenobioticos em nossos próprios sentimentos, por conta própria. Esta é uma forma de pararmos de criticar o desrespeito que existe em nossa sociedade e assumir a nossa responsabilidade nisso tudo. Eliminar a visão dicotômica do bravo e do manso, do bem e do mal. Ultrapassar essa dualidade. Isso é maturidade emocional! Isso é assumir a nossa parcela de responsabilidade nas relações e descobrir que sofisticar a gentileza é um dever de cada um para desenvolver uma delicadeza no trato e assim fazer diariamente a nossa contribuição para que as pessoas se relacionem num nível respeitoso e justo. Agindo assim, seremos criadores de sentido. Geradores de entusiasmo. E consequentemente alguém muito desejado e amado por levar vida aonde vai.